Âncora
No peito, um mar sem onda dorme aberto.
Um pingo de vida no braço respira
o que sobrou de mim: cinza que vira
no fim do dia de tempestades e desertos.
Estou luz apagada, sono químico inquieto.
É véspera. Mas quando o sol chegar,
vou ser espuma, água morna a banhar
um pingo, meu porto, meu único acerto.
Ele não vai notar que o que restou
sobreviveu ontens, dia após noite, até agora,
longo começo do fim. Ele, meu recomeço.
De pingo à promessa feliz: me tira da lama
quando a maré baixa. Quando alta, me ampara.
Corro atrás de equilíbrio, comprimida esperança,
carrego no colo metade de quem me segura.
A outra metade sou eu, que nele meu mundo pára
EDU LAZARO


